sábado, 5 de maio de 2007

Analise poética: A um rato morto encontrado num parque - Mário Cesariny

Análise do Poema “A Um Rato Morto Encontrado Num Parque”, de Mário Cesariny
A Um Rato Morto Encontrado Num ParqueEste findou aqui sua vasta carreirade rato vivo e escuro ante as constelaçõesa sua pequena medida não humilhasenão aqueles que tudo querem imensoe só sabem pensar em termos de homem ou árvorepois decerto este rato destinou como soube (e até como não soube)o milagre das patas - tão junto ao focinho! -que afinal estavam justas, servindo muito bempara agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltaratrás de repente, quando necessárioEstá pois tudo certo, ó "Deus dos cemitérios pequenos"?Mas quem sabe quem sabe quando há enganonos escritórios do inferno? Quem poderá dizerque não era para príncipe ou julgador de povoso ímpeto primeiro desta criaçãoirrisória para o mundo - com mundo nela?Tantas preocupações às donas de casa - e aos médicos -ele dava!Como brincar ao bem e ao mal se estes nos faltam?Algum rapazola entendeu sua esta vida tão ímpare passou nela a roda com que se amamolhos nos olhos - vítima e carrascoNão tinha amigos? Enganava os pais?Ia por ali fora, minúsculo corpo divertidoe agora parado, aquoso, cheira mal.Sem abusoque final há-de dar-se a este poema?Romântico? Clássico? Regionalista?Como acabar com um corpo corajoso e humílimomorto em pleno exercício da sua lira?Mário Cesariny______________________________• AnáliseO poema “A um rato morto encontrado no parque”, de Mário Cesariny, mostra, desde a estrutura, características do Modernismo como, em uma única estrofe de trinta versos, possuir versos livres. Além disso, tem como temática a metapoesia, pois o título do próprio poema alude uma dedicatória “a um rato morto encontrado no parque”.Embora o título sugira que o “eu-lírico” não especifica qual o ser que esse faz referencia, como se houvesse mais de um rato morto (graças à utilização do artigo indefinido – “Um rato morto [...]”); logo no primeiro parágrafo, há a identificação desse rato (passa a idéia de que o “eu-lírico” está bem próximo ao rato – “Este findou aqui sua vasta carreira [...]”). Esse animal, ainda, apesar de minúsculo, ocupa um lugar que, para pessoas ambiciosas, causa inveja (“[...] a sua pequena medida não humilha / senão aqueles que tudo querem imenso [...]”).No entanto, trata-se de um simples rato que possuicaracterísticas próprias como “[...] o milagre das patas - tão junto ao focinho! - / que afinal estavam justas, servindo muito bem / para agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltar / atrás de repente, quando necessário [...]”. Então, ao observar isso, o “eu-poético” questiona ao “[...] “Deus dos cemitérios pequenos” [...]” o porquê da morte desse animal que nada fez e, além disso, pergunta se houve algum “[...] engano / nos escritórios do inferno [...]”. Porém, não obtém respostas.Sabe-se apenas que é comum, no dia-a-dia, um rato dar preocupações às donas de casa (pelo medo que esses provocam nelas) e aos médicos (pelas doenças que esses animais podem trazer), nada a mais; então, que mal, segundo o “eu-lírico”, esse animal haveria de ter feito? Não se sabe. A única certeza é que o corpo desse animal está parado, aquoso e cheirando mal.No final do texto, o “eu” que fala ratifica a idéia da metapoesia, pois se questiona como irá finalizar o poema (“[...] que final há-de dar-se a este poema? / Romântico? Clássico? Regionalista? [...]” ). Porém, por mais que ele encontre uma conclusão, a do rato já houve, uma vez que esse se encontra morto.Do ponto de vista estilístico, o poema possui uma grande quantidade de pontuações, principalmente interrogações, como se o “eu-lírico” sempre estivesse a se questionar de algo que não concorda. Além disso, o texto se utiliza de uma enorme quantidade de palavras ou expressões que fazem referência ao rato e deixam, de certa forma, o leitor comovido com essa situação digna de pena (“pequena medida”, “minúsculo corpo”, “parado”, “aquoso”, “cheira mal”, etc.).Outro fator importante a ser analisado no poema é a existência da ambigüidade, pois a figura do simples rato pode personificar-se na do homem em meio à pobreza e à miséria existentes no mundo. Então, é correto dizer que pode haver, por trás dessa comovente descrição do texto, uma crítica à sociedade (daí abordar um tema do cotidiano – ao invés de ser um rato morto no parque, ser mais um homem morto).______________________________• ConclusãoPor fim, esse poema possui léxicos que conseguem comover o leitor e chamar a atenção dele para a cena da morte de um rato; porém, esse drama é apenas mais um dos muitos que acontecem (não é a toa que o título inicia com um artigo indefinido). Além disso, existe a metapoesia e a ambigüidade (a morte do rato = a morte de um homem, um indigente, etc.). Então, a partir desta última característica é que o “eu-lírico” se aproxima de Mário Cesariny, pois esse, com o auxílio do jogo de palavras ambíguas, faz a crítica que quer, sem deixar nada explícito.______________________________• Referência* http://www.mundocultural.com.br/contemporaneo/portugal/mario_cesariny.html

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