sábado, 5 de maio de 2007

Analise poética: Chove - Fernando Pessoa

Análise do Poema “CHOVE” , de Fernando Pessoa
CHOVE. É dia de Natal. ALá para o Norte é melhor: BHá a neve que faz mal, AE o frio que é ainda pior. BE toda a gente é contente CPorque é dia de o ficar. DChove no Natal presente. CAntes isso que nevar. DPois apesar de ser esse EO Natal da convenção, FQuando o corpo me arrefece ETenho frio e Natal não. FDeixo sentir a quem quadra GE o Natal de quem o fez, HPois se escrevo ainda outra quadra GFico gelado dos pés. HFernando Pessoa(25-12-1930)___________________________A AnáliseO poema “Chove” de Fernando Pessoa, apesar de pertencer cronologicamente ao Modernismo português, cujo ideal é quebrar regras com a tradição formal, apresenta-se com forma fixa de quatro estrofes, cada uma contendo quatro versos (quadras – característica da poética de Fernando Pessoa o uso de quadras como predominância), divididos em sete sílabas poéticas (redondilho maior). Além disso, possui rimas alternadas (ABAB – CDCD – EFEF - GHGH) e há a predominância de rimas ricas.Do ponto de vista semântico, o “eu-lírico” diz que chove no dia de Natal e antiteticamente afirma a preferência em achar no Norte o melhor lugar para ficar nesse período, pois lá o frio torna-se pior do que o que já está a sentir (“[...] Lá para o norte é melhor: / Há a neve que faz mal, /E o frio que é ainda pior. [...]” - antítese). Isso porque combinaria mais com o espírito deste “eu-poético” que não concorda com o clima de alegria trazido pelo Natal.Esse dia deixa as pessoas contentes, pois há a troca de presentes - a palavra “presente” no terceiro verso da segunda estrofe é ambígua, pois pode ser o presente (tempo) ou o presente (substantivo – do ato de presentear). Então, apesar de ser uma convenção a festa natalina, ela torna-se um momento bonito e de alegria que não há espaço para a frieza da neve, pois existe o calor das pessoas que possuem o espírito natalino.Porém, o “eu-lírico” por não possuir esse calor natalino dentro dele, sente o corpo frio (“[...] Tenho frio e Natal não. [...]” – Elipse do verbo “ter”) e prefere optar em terminar o poema à não acrescentar outra quadra – metapoema - uma vez que no verso “[...] Pois se escrevo ainda outra quadra [...]” o “eu” que fala comenta, no poema, sobre o próprio fazer poético. Faz isso, pois, com o frio que diz sentir, não há, portanto, possibilidade de dar continuidade ao texto.___________________________ConclusãoEsse poema, portanto, mostra características da poética de Fernando Pessoa como a utilização de quartetos, a métrica de sete versos (em redondilho maior) e uma linguagem simples, porém de forma bem trabalhada. Além disso, mesmo através de um humor negro, conforme o penúltimo verso, há presente no texto um dos temas de sua poética que é a metapoesia.___________________________ReferênciaPESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 2003.
Veridiana Rocha
Publicado no Recanto das Letras em 18/04/2007

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