sábado, 5 de maio de 2007

o discurso direto e inovações

O DISCURSO (ou Diálogo) DIRETO E INOVAÇÕES —————————————————————————————————— INTRODUÇÃO[•] O diálogo consiste no intercâmbio verbal entre duas ou mais pessoas em textos não ficcionais, como por exemplo, matérias jornalísticas, textos dissertativos, etc., ou então entre duas ou mais personagens nos textos ficcionais. O Diálogo vem sendo empregado desde a Antiguidade Clássica. A princípio com fins didáticos e expositivos, depois se expandiu ao teatro, à poesia narrativa (epopéia), ao conto, ao romance e à novela. No teatro, o diálogo, assume papel tão relevante, que sem ele seria praticamente impossível à encenação da maioria das peças teatrais. Nas narrativas de ficção é o recurso dramático por excelência. Portanto, seria também inimaginável um conto, uma novela, um romance sem ele. No que se refere à linguagem, no geral, os escritores orientam o diálogo em dois rumos distintos: procuram reproduzir fielmente a linguagem oral, a fim de conferir o máximo de naturalidade e realismo as falas das personagens, ou dão ao dialogo uma linguagem culta, com brilho, específicas da escrita e literária. Do prisma estrutural, o diálogo se classifica em: 1) direto, ou discurso indireto; 2) indireto, ou discurso indireto; 3) indireto livre, ou discurso indireto livre; 4) monólogo interior; 5) solilóquio; O Discurso Direto [•] Caracteriza-se pela reprodução fiel da fala das personagens, ou seja, o ficcionista assume o papel de mero transcritor das conversas que as personagens mantêm. A fala é representada com um travessão ou aspas: O Oliveira, que tinha colocado a cabeça para fora e estava olhando para trás, falou: — Chii, a roda sumiu no barro. No exemplo, acima, o discurso direto foi organizado da maneira tradicional: o narrador explica quem vai falar. A frase termina por dois pontos. Abre-se então um novo parágrafo para nele colocar o travessão, seguido da fala do personagem. Há uma outra maneira de construirmos o discurso direto utilizando o travessão: Em primeiro lugar registra-se a fala do personagem (depois de posto o travessão). Na mesma linha coloca-se um outro travessão e, em seguida, a frase que explica quem está dizendo (iniciada por letra minúscula): — Há um vilarejo a dez quilômetros daqui – respondeu o funcionário. A fala pode também ser representada apenas pelas aspas: O porteiro da noite do edifício Deauville ouviu o ruído dos passos furtivos descendo as escadas. Era uma hora da madrugada e o prédio estava em silêncio. “Então, Raimundo?” “Vamos esperar um pouco”, responde o porteiro. Anote: Na narrativa moderna, há casos, em que o escritor dispensa os sinais gráficos. Para anunciar as palavras do diálogo, ou mesmo explicar quem esta fazendo a afirmação, via de regra, aparece um dos verbos dicendi, ou de elocução (disse, acrescentou, etc.), que pode preceder, encerrar, ou intercalar-se no diálogo: O alfinete disse à agulha: “Faze como eu, que não abro caminho para ninguém”. “Faze como eu, que não abro caminho para ninguém” — disse o alfinete à agulha. “Faze como eu” — disse o alfinete à agulha — “que não abro caminho para ninguém.” Na segunda frase, a oração contendo o verbo dicendi, poderia estar separada por vírgula (no lugar do travessão); e na terceira, seria correto pô-la entre vírgulas ou entre parênteses. Esse processo tem a vantagem de manter intacta a expressividade lingüística. Alguns verbos dicendi ou de elocução: falar, perguntar, responder, indagar, replicar, argumentar, pedir, implorar, comentar, afirmar. As Inovações[•] Alguns autores modernos dispensam o emprego dos verbos dicendi em favor de um ritmo mais veloz da narrativa: O Paranóico só fala no telefone tapando o bocal com um lenço. Para disfarçar a voz. — Podem estar gravando. — Mas você ligou para saber a hora certa! — Nunca se sabe. (Veríssimo) Na busca de maior expressividade, outros escritores modernos, utilizam estruturas inovadoras e criativas para reproduzir os diálogos da narrativa. É o caso de José Saramago (escritor português), no romance "Memorial do Convento", que num estilo muito particular, utiliza parágrafos de aproximadamente uma página, com textos ininterruptos e diálogos inseridos em meio à narração sem o recurso dos dois pontos, do travessão ou das aspas. Semelhante processo é utilizado pelo brasileiro Rubens Fonseca no conto "A Matéria do Sonho". O conto é estruturado em um único parágrafo, que se prolonga por várias páginas: “[...] Então voltei para casa onde estava. Éramos quatro num quarto todos roncavam e não me deixaram dormir a noite toda. Nove horas da manhã o mulatinho saiu com seu Alberto. À tarde o garotos não estavam jogando bola. Eu cheguei perto deles e disse, hoje não tem bola, os garotos não vieram. Ele disse, mas eu também não tenho muito tempo para jogar, arranjei um emprego com uns velinhos e não quero que eles se chateiem comigo. É um velinho e uma velinha, gosto mais deles do que do meu pai. Como é que pode?, eu perguntei. Sei lá, respondeu [...].” A Expressividade do Discurso Direto [•] Para fecharmos essa primeira parte do texto sobre as formas de diálogo, transcrevo o conceito de Celso Cunha, "A Nova Gramática do Português Contemporâneo", em referência a expressividade do discurso direto: “No plano expressivo, a força da narração em discurso direto provêm essencialmente de sua capacidade de atualizar o episódio, fazendo emergir da situação a personagem, tomando-a viva para o ouvinte, à maneira de uma cena teatral, em que o narrador desempenha a mera função de indicador das falas. Estas, na reprodução direta, ganham naturalidade e vivacidade, en- riquecidas por elementos lingüísticos tais como exclamações, interro- gações, interjeições, vocativos e imperativos, que costumam impreg- nar de emotividade a expressão oral.” ®_____________________________________________________________Informações recolhidas e adaptadas de: José de Nicola, Floriana Toscano e Ernani Terra - Língua, Literatura e Produção de Textos. Rocha Lima, Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Massaud Moisés, A Criação Literária. Branca Granatic, Técnicas de Redação. ● Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe. ● Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, quaisquer comentários.
Ricardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 08/03/2007

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