sábado, 5 de maio de 2007

Literatura

A PALAVRA LITERATURA ------------------------------------------------------[•] A palavra «Literatura» deriva do latim “litteratura” que por sua vez se origina de “litera”, e significa o ensino das primeiras letras, ou seja, o ensino primário, da escrita e das letras. • Com o tempo a palavra ganhou melhor sentido e passou a significar «arte das belas letras» e, por fim, "arte literária". Até o século XVIII, preferiu-se o termo poesia, ao qual se atribuía sentido solene e elevado. Somente a partir do século XIX é que a palavra Literatura passou a ser empregada para definir uma atividade que, além de incluir os textos poéticos, abrangia todas as expressões escritas. • De acordo com o que expusemos, podemos concluir que: desde a sua origem a literatura esteve condicionada à letra escrita e depois impressa. • Isso nos esclarece, de imediato, acerca de um aspecto da proble-mática literária, no que diz respeito ao caráter Oral da Literatura. O CARÁTER ORAL DA LITERATURA [•] Na verdade, só podemos nos referir a literatura quando possuímos documentos escritos ou impressos, o que queremos dizer é que a chamada literatura oral não corresponde a nada. O que há, ri-gorosamente, é a transmissão oral da literatura «depois» que existe o texto escrito ou impresso. Antes disso, é tudo menos arte literária. “ Se não tivermos texto diante de nós, não podemos adiantar nenhuma idéia ou juízo de valor a seu respeito, pois a sua comunicação oral, antes da ou após a trans-crição no papel convida-nos mais a opiniões acerca do intérprete que do conteúdo da obra comunicada.” (Massaud Moisés, Guia Prático de Análise Literária) • Assim, não podem ser consideradas como tendo literatura as co-munidades destituídas de escrita ou não documentadas através da palavra escrita, suas lendas e mitos, por exemplo, os indígenas bra-sileiros. • Por mais generosa que seja a idéia duma literatura oral, popular, esta não passa de folclore, e só será literatura quando escrita. Esta é, inquestionavelmente, a primeira condição para que uma obra possua caráter literário. O CONCEITO DE LITERATURADefinição e Conceito • Não é de hoje que estudiosos vem procurando conceituar a Lite-ratura de um modo convincente e conclusivo. Porém por mais esforços que tenham sido feitos, o problema continua aberto, pelo simples fato de que neste particular, somente podemos falar em conceito, nunca em definição. •> Definição pertence ao campo da ciência. Definir é dar uma ex-plicação precisa, exata de algo. Assim, quando dizemos que água é H2O, estamos dando um definição, pois os termos do enunciado cor-respondem a essência da água e tão somente a ela. Alem disso, tal definição é aceita universalmente, pois se baseia no raciocínio, ou melhor, no emprego da razão. •> Conceito, por sua vez, é feito de acordo com as impressões mais ou menos subjetivas que cada um retira do objeto. Assim, quando conceituamos o amor, este conceito é feito levando em conta a forma como esse sentimento se manifestou em nós. Da mesma forma, quan-do dizemos que «belo é o que agrada», estamos tentando con-ceituar o Belo de uma forma que procura inutilmente ser universal. Basta uma analise superficial deste enunciado para que ele se revele incapaz da satisfazer a todos. Tudo o que agrada é belo? O que de-sagrada não pode ser belo? E quando um mesmo objeto agrada uma pessoa e desagrada outra? O feio para uns não pode ser belo para outros? Os Conceitos •>Não é fácil o trabalho de conceituar a Literatura. Por trás de todo conceito haverá sempre um posicionamento crítico. Seria, sobrema-neira, improdutivo se procurássemos historiar uma a uma as pro-postas de conceito de Literatura, todavia colocaremos algumas em relevo para que possam fazer suas avaliações: ► Um dos mais antigos textos sobre o conceito de Literatura é a Poética, de Aristóteles (foi quem inaugurou a longa série de es-tudos). Nesse texto clássico com sua idéia de mimese (até hoje lido, relido e discutido), o filósofo grego afirma que “arte é imitação (=mímesis em grego)”. E justifica: “o imitar é congênito no homem (e nisso difere dos outros viventes, pois de todos, é ele o mais imitador e, por imitação, apreende as primeiras lições), e os homens se comprazem no imitado”. O que ele quer nos dizer é que o imitar faz parte da natureza humana e os homens sentem prazer nisso; em síntese, arte como recriação. Aristóteles afirma também que: “Não é ofício do poeta narrar o que aconteceu, é sim, re-presentar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o historiador e o poeta, por es-creverem verso ou prosa ( pois bem que poderiam ser pos-tas em verso as obras de Heródoto, e nem por isso deixa-riam de ser história, se fossem em verso o que eram em prosa); diferem, sim, em que diz um as coisas que suce-deram, e outro as que poderiam suceder.” (Aristóteles. Poética.) •> A Poética, atravessou os séculos, mereceu comentários de vários tipos, foi combatida e rejeitada e, finalmente contrabalançada com a idéia segundo a qual o texto literário guarda intuitos lúdicos, ou seja, visa entreter o leitor, distraí-lo do cotidiano amargo e feroz.Percebe-se, no pensamento de Aristóteles, que o historiador (Heró-doto foi o primeiro) escreve sobre o que aconteceu, sobre fatos e pessoas reais, num tempo datado e num espaço localizado. Já o artista (Aristóteles usa o termo poeta como sinônimo de artista, do qual faz parte o poeta) recria a vida, mostrando-nos não como ela é, e sim co-mo poderia ser.“A Literatura obedece a leis inflexíveis: a da herança, a do meio, a do momento.” (Hypolite Taine, deter-minista, século XIX) “ A Literatura é arte e só pode ser encarada como arte. É a arte pela arte.”(Doutrina da «arte pela arte», fins do século XIX) “O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate.” (Jean-Paul Sartre, século XX)"A literatura é como 0 sorriso da sociedade. Quando ela é feliz, a sociedade, o espírito se lhe reflete nas artes e, na arte literária, com ficção e com poesias, as mais graciosas expressões da imaginação. Se há apreensão ou sofrimento, o espírito se concentra, grave, preocupado, e então, histórias, ensaios morais e científicos, sociológicos e políticos, são-lhe a preferência imposta pela utilidade imediata." ( Afrânio Peixoto, Panorama da Literatura Brasileira) “Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande Literatura é simplesmente a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível. A literatura não existe no vácuo. Os escritores como tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade.” (Ezra Pound, poeta, teórico e crítico de literatura norte-americano)► Afrânio Coutinho, em sua Notas de Teoria Literária, contribui com este magnífico conceito: “A literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada, através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realida-de. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, indepen-dente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à ima-ginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferente dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social. O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mais medidas pelos mesmos padrões das ver-dades ocorridas. Os fatos que manipula não têm compa-ração com os da realidade concreta. São as verdades hu-manas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido de vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida. A Literatura é, assim, vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e luga-res, porque são as verdades da mesma condição humana.” COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. 2. ed. “A obra literária não é pura receptividade imitativa ou reprodutiva, nem pura criatividade espontânea e livre, mas «expressão» de um sentido novo, escondido no mundo, e um processo de construção do objeto artístico, em que o artista colabora com a natureza, luta com ela ou contra ela, separa-se dela ou volta a ela, vence a resistência dela ou dobra-se as exigências dela. [...] O artista é um ser social que busca exprimir seu modo de estar no mundo na companhia de outros seres humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la.” Marilena Chauí, Convite à Filosofia. •> Apesar das diferenças e por vezes antagonismos presentes nessa pequena amostragem, podemos retirar dela alguns fatos inegáveis: a) A Literatura é uma manifestação artística. b) A linguagem é o material da Literatura, isto é, o artista literário trabalha com a palavra. c) Em toda obra literária percebe-se uma ideologia, uma postura do artista diante da realidade e das aspirações humanas. ® ------------------------------------------------------------------------------------Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe. Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, quaisquer comentários.
Ricardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 08/05/2006Código do texto: T152254

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