sábado, 5 de maio de 2007

pequenas considerações sobre o soneto

PEQUENAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O SONETO
Soneto (originariamente o vocábulo significava "pequeno som") poesia de forma fixa, ou seja, utiliza métrica (medida de versos) e esquema de rimas (ritmo). É composto por 14 (catorze) versos, distribuídos em 02 (dois) quartetos e 02 (dois) tercetos (soneto italiano), geralmente utiliza versos decassílabos (dez sílabas poéticas) ou alexandrinos (doze sílabas poéticas). Também pode ser formado por 03 (três) quartetos e 01 (um) dístico (dois versos) - soneto inglês.Esquema mais frequente de rimas: abba - abba- cde - cde (soneto italiano).No Modernismo Brasileiro (1922 - Atualidade) foi muito cultivado o soneto branco, isto é, catorze versos sem rimas, porém, com métrica (versos decassílabos ou alexandrinos).Principal cultor no Brasil: Mário de Andrade (1893-1945).SONETOS ITALIANOSSONHO DE POETACantas tua musa e tuas verdades. Tu és alegre, tu és sensível. Queres para o Mundo: felicidades. Poeta torne seu sonho possível.Desejas para todos: liberdades. Tu possuis idealismo invencível. Sonhador... Artesão das sensibilidades... poeta criatura indestrutível.Defendas os valores cotidianos. Que tua vontade dure por anos. Canta o choro do coração fendido.vítima flechada pelo Cupido. Cantas para o Amor que não frutificou da triste alma que o destino separou. "Que ninguém doma um coração de poeta!" Augusto dos Anjo (1884 - 1914)A FAMÍLIA CAJUEra uma vez a FAMÍLIA CAJU composta por Pai, Mamãe, Sofia e Ju. Sofia (CAJU): faz balé e natação, livros, textos, cinema e televisão.Por que CAJU? Chamam-na de Jujú, todos dizem - vem cá Ju - (CAJU) ficou. A família (CAJU) vive a viajar, rota: Rio, Saquarema, Petrópolis e BH.Papai (CAJU) come: jiló com chuchu. Mamãe (CAJU) gosta de aipo e angu. CAJU tem os cabelos cacheadoscorre para não serem penteados. Cresce a família caju. Aos domingos: churrasco e peixe cru. SONETO BRANCOSONHO DE AMORSonhei em sonho de amor que estava em terra de paz e felicidade. Cicerone: fantástica loura. Musa: grandes, lindos olhos azuis.Um corpo magro, modelado, esguio... Adorei esta loura e, encantado, quis com as forças do meu coração namorar esta maviosamulher.Infelizmente, intrépido não sou, não tenho Símbolo de Nobreza, humilde discípulo em Letras sou.Mesmo assim, Ela deu-me o "telefone", "liguei"..., obstou a família e NÃO!!! Adorável sonho... Sex Rapunzel!!!PEQUENA ANTOLOGIA DE SONETOSMelhores sonetistas de Portugal:Luís Vaz de Camões (1524 - 1580) - Renascimento.Nasceu (provavelmente) em Lisboa.1572 - Primeira edição de Os Lusíadas.Poesias: Rimas (1595).Principais sonetos:Sete anos de pastor Jacó servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas, não servia ao pai, servia a ela, e a ela só por prêmio pretendia.Os dias na esperança de um só dia, passava, contentando-se com vê-la; Pórem o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia.Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assim negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida,Começa de servir outros sete anos, Dizendo: - Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida!Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar; Não tenho mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada.Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. (ligada)Mas está linda e pura semideia, (semideusa) Que, como o acidente em seu sujeito, Assim com a alma minha se conforma,Está no pensamento como idéia; [E] o vivo e puro amor de que sou feito, Como a matéria simples busca a forma.Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida, descontente, Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá na terra sempre triste.Se lá no assento etéreo onde subiste, memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste.E se vires que pode merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te,Roga a Deus que teus anos encurtou, Que tão cedo me leve a ver-te, Quão cedo de olhos te levou. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o Mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades,O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e em mim converte em choro o doce canto.E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía.Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765 - 1805). Neoclacissismo ou Arcadismo (1756 - 1825)."Elmano Sadino".Nasceu em Setúbal.Poesias: Idílios Marítimos; Rimas (3 volumes) e Parnaso Bocagiano - poesias eróticas, burlescas e satíricas.Principais sonetos:Soneto VMeu ar evaporei na lida insana Do tropel de paixões que me arrastava; Ah!, cego eu cria, ah!, mísero eu sonhava Em mim quase imortal a essência humana.De que inúmeros sóis a mente ufana Existência falaz me não doirava! Mais eis sucumbe Natureza escrava Ao mal que a vida em sua origem dana.Prazeres, sócios meus e meus tiranos! Esta alma que sedenta em si não coube, No abismo vos sumiu dos desenganos.Deus, oh Deus!...Quando a morte à luz me roube, Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.Retrato Próprio (Soneto LXXXI)Magro, de olhos azuis, carão moreno, bem servido de pés, meão na altura, triste de facha, o mesmo de figura, nariz alto no meio, e não pequeno.Incapaz de assistir num só terreno, mais propenso ao furor do que à ternura; bebendo em níveis mãos por taça escura de zelos infernais letal veneno.Devoto incensador de mil deidades (digo, de moças mil) num só momento, e somente no altar amando os frades.Eis Bocage, em quem luz algum talento; saíram dele mesmo estas verdades num dia em que se achou mais pachorrento.Antero de Quental (1842 - 1891) - Realismo.Nasceu em Açores (Ponta Delgada).Obras:1ª fase - Odes modernas (1865); Primaveras românticas (1862) e Raios de extinta luz (1892).2ª fase - Sonetos completos.Principais sonetos:Mais luz! A Guilherme de AzevedoAmem a noite os magros crapulosos, E os que sonham com virgens impossíveis, E os que se inclinam mudos, impassíveis, À borda dos abismos silenciosos...Tu, lua, com teus raios vaporosos, Cobre-os, tapa-os e torna-os e insensíveis, Tanto aos vícios cruéis e inextínguiveis, Como aos longos cuidados dolorosos!Eu amarei a santa madrugada, E o meio dia em vida refervendo, E a tarde rumorosa e repousada.Viva e trabalhe em plena luz: depois, Seja-me dado ainda ver morrendo, o claro sol, amigo dos heróis!Soneto IINum céu intemerato e cristalino Pode habitar talvez um Deus distante, Vendo passar um sonho cambiante O Ser como espetáculo divino.Mas o homem, na terra onde o destino O lançou, vive e agita-se incessante: Encher o ar da terra o seu pulmão possante... Cá na terra blasfema ou ergue o hino...a idéia encarna em peitos que palpitam: O seu pulsar são chamas que crepitam, Paixões ardentes como vivos sóis!Cambatei pois na terra árida e bruta, Té que a revolta o remoinhar da luta, Té que a fecunde o sangue dos heróis!A JOÃO DE DEUSSe é lei, que rege o escuro pensamento, Ser vã toda a pesquisa da verdade, Em vez da luz achara escuridade, Ser uma queda nova cada invento;É lei também, embora cru tormento, Buscar, sempre buscar a claridade, E só ter como certa realidade O que nos mostra claro o entendimento.O que há-de a alma escolher, em tanto engano? Se uma hora crê de fé, logo duvida: Se procura, só acha... o desatino!Só Deus pode acudir em tanto dano: Esperemos a luz de uma outra vida, Seja a terra degredo, o céu destino. Grandes cultores no Brasil:Gregório de Matos e Guerra (1636-1696) - Barroco.Nascido em Salvador, Bahia.Por ser muito crítico à sociedade de seu tempo foi apelidado de "Boca de Inferno".Somente no século XX é que a Academia Brasileira de Letras deu lume as suas obras, organizadas da seguinte maneira:I - Sacra (1929);II - Lírica (1923);III - Graciosa (1930);IV e V - Satírica (1930);VI - Última (1930).Sonetos mais conhecidos:"Buscando a Cristo". (Sacro)"Sonetos a D. Ângelade Sousa Paredes". (Lírico)"A Jesus Cristo Nosso Senhor". (Sacro)"A instabilidade das coisas do mundo". (Lírico)"À cidade da Bahia". (Satírico)"Aos Caramurus da Bahia". (Satírico)"Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia". (Satírico)Cláudio Manuel da Costa ("Glauceste Satúrnio").(1729-1789) - Arcadismo.Nascido em Mariana, Minas Gerais.Participou do movimento denominado "Inconfidência Mineira".Poesias:Obras poéticas (1768) - obra literária que inaugurou o Arcadismo (1768 - 1836) no Brasil.Principais sonetos:Soneto XCVIIIDestes penhascos fez a natureza O berço, em que nasci: oh quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna,um peito sem dureza!Amor, que vence os Tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara, Que não me foi bastante a fortaleza.Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano:Vós que ostentais a condição mais dura, Temei penhas, temei; que Amor tirano, Ondehá mais resistência mais se apura.Soneto XIIINise? Nise? onde estás? Aonde espera Achar-te uma alma, que por ti suspira; Se quando a vista se dilata e gira, Tanto mais de encontrar-te desespera!Ah se ao menos teu nome ouvir pudera Entre esta aura suave que respira! Nise, cuido, que diz; mas é mentira. Nise cuidei que ouvia; e tal não era.Grutas, troncos, penhascos da espessura, Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde, Mostrai, mostrai-me a sua formosura.Nem ao menos o eco me responde! Ah como é certa a minha desventura! Nise? Nise? onde estás? aonde estás?Soneto IILeia a posteridade, ó pátrio Rio, Em meus versos teu nome celebrado; Por que vejas uma hora despertado O sono vil do esquecimento frio:Não vês nas tuas margens o sombrio, Fresco assento de um álamo copado; Não vês ninfa cantar, pastar o gado Na tarde clara do calmoso estio.Turvo banhando as pálidas areias Nas porções do riquíssimo tesouro O vasto campo da ambição recreias.Que de seus raios o planeta louro Enriquecendo o influxo em tuas veias, Quando em chamas fecunda, brota em ouro.Soneto XIVQuem deixa o trato pastoril amado Pela ingrata, civil correspondência, Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado.Que bem é ver nos campos transladado No gênio do pastor, o da inocência! E que mal é no trato e na aparência Ver sempre o cortesão dissimulado!Ali respira amor sinceridade; Aqui sempre a traição seu rosto encobre; Um só trato a mentira, outro a verdade.Ali não há fortuna, que soçobre; Aqui quanto se observa, é variedade: Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!Olavo Bilac (1865-1918) - Parnasianismo (1870 - 1922).Nasceu no Rio de Janeiro.Membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896).Em 1907, foi eleito "Principe dos Poetas".Poesias:Poesias (1888), Poesias infantis (1904), Tarde (1919).Soneto de maior realce:Soneto XIII - "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo / Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,".Raimundo Correia (1859 - 1911) - Parnasianismo.Nascido no Maranhão.Juntamente com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac formaram a "Trindade Parnasiana".Poesias: Sinfonias (1883).Principais soneto: "As pombas" e "Mal secreto".Alberto de Oliveira (1857 - 1937) - Parnasianismo.Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro.1924 - Eleito "Príncipe dos Poetas" no vaga de Olavo Bilac.Poesias: Meridionais.Sonetos mais conhecidos: "Vaso grego", "Vaso chinês" e "A estátua".Vinícius de Moraes (1913 - 1980) - Modernismo.Nasceu no Rio de Janeiro.Poesias: Obra poética (1968) e Poesia completa e prosa (1974).Principais sonetos: "Soneto da fidelidade" e "Soneto da separação". Amauri Carius Ferreira (Augusto de Sênior)__________________________________________________________Referência bibliográfica:MOISÉS. Massaud. A LITERATURA BRASILEIRA ATRAVÉS DOS TEXTOS. 23ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2002.------- PEQUENO DICIONÁRIO DE LITERATURA BRASILEIRA. 6ª ed. São Paulo: Cultrix, 2001.NICOLA, José de. LITERATURA BRASILEIRA DAS ORIGENS AOS NOSSOS DIAS. São Paulo: Scipione, 1998.CAMPEDELLI, Samira Youssef. LITERATURA - HISTÓRIA E TEXTO.4ª ed. v.1 - São Paulo: Editora Saraiva, 1996.------- E ABDALA JÚNIOR, Benjamim. TEMPOS DA LITERATURA BRASILEIRA. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2001. (Série Fundamentos)HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. 2ª edição revista e aumentada. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.AMARAL, Emília et al. NOVAS PALAVRAS: LITERATURA, GRAMÁTICA, REDAÇÃO E LEITURA. V.1 e V.2 - São Paulo: FDT, 1997. - (Coleção Novas palavras)
Augusto de Sênior
Publicado no Recanto das Letras em 06/11/2006Código do texto: T283528

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