sábado, 5 de maio de 2007

Linguagem figurada na literatura

A LINGUAGEM FIGURADA NA LITERATURA --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Caro Leitor ou Leitora, Constatamos, ultimamente, a cópia de textos de autores deste site para serem postados em outros lugares com falsa autoria. Portanto, caso queira uma cópia deste, solicite-me e terei o prazer de atendê-lo ou atendê-la. Ou então, copie a página inteira clicando em "Arquivo" (no seu navegador) e selecione "Salvar Como"; escolha no menu aberto, o local, geralmente, "Meus Documentos" e clique "Salvar". • FIGURAS SEMÂNTICAS OU DE ESTILO • - ----------------------------------------------------------------------------------------------------- Figuras Semânticas ou de Estilo são recursos que usamos para o en-riquecimento do texto e da língua. Dividem-se em Figuras de Palavras ou Tropos – quando a palavra, desviando-se do seu sentido normal, recebe um novo dimensionamento graças à capacidade que adquire de comunicar outras idéias e emoções – e Figuras de Pensamento – quando é a frase que recebe este novo dimensionamento. FIGURAS DE PALAVRAS ------------------------------------------------------1 - COMPARAÇÃO ( Latim comparatione[m], confrontar)(•) Até certo ponto a comparação é sinônimo de símile, e base explícita ou implícita da metáfora. ► Comparação Simples - Comparação simples é uma comparação entre dois elementos de um mesmo universo. É muito comum compararmos as coisas que nos rodeiam. Freqüentemente dizemos que tal coisa e melhor que outra, que fulano e mais simpático do que beltrano assim por diante. Comparar é uma forma de organizar nossas experiências no mundo. Sempre que temos que escolher alguma coisa, fazemos uma comparação antes de tomar a decisão. E essa comparação é feita muitas vezes sem que percebamos. => Macarrão é mais barato do que carne. (♦) Nesse exemplo estamos comparando elementos de um mesmo universo: tanto o macarrão quanto a carne são comidas. Observe outras comparações entre elementos de mesmo universo: => Este time joga melhor do que aquele. => Um fusca é menos espaçoso do que um Opala. => Cristina ë tão estudiosa quanto Paula.► Símile (Latim símile [m], coisa semelhante) - Símile ou Comparação Metafórica ou é uma comparação entre dois elementos de universos diferentes. Observe: => Esta criança é forte como um touro. (♦) Nesse caso, estamos comparando a criança a um touro, dois elementos de universos bastante diferentes. Aproximamos esses elementos porque «en-xergamos» uma característica comum a ambos, ou seja, a força. Veja mais exemplos: => A casa dela é escura como a noite. (associamos a casa à noite porque ambas são escuras) => O remédio que eu tomo é ruim feito diabo. (associamos o remédio ao diabo porque têm em comum: a ruindade) (•) Observe que em todas essas comparações há sempre palavras ou expressões que estabelecem a relação entre termos comparados. São os conectivos comparativos: como, feito, que nem, assim como, tal, tal qual, qual, etc. As comparações apresentadas são chamadas metafóricas, pois elas dependem muito de quem as enuncia (da sua sensibilidade, do seu estado de espírito, da sua experiência, etc). Então podemos dizer que:► Quando a analogia se efetua entre seres ou objetos distintos, temos a símile.► Quando a analogia se realiza entre dois elementos da mesma natureza temos a comparação pura e simples: Fulano é tão inteligente como Beltrano. 2 - MATÁFORA (Grego metaphorá, transporte, translação) (•) Aí está um assunto controvertido, em pauta desde praticamente «os começos» do pensamento estético. Atualmente o assunto continua na ordem do dia, sobretudo com a renovação dos estudos retóricos. Na vasta biografia a respeito, incluem não só ensaios breves, capítulos de livros, resenhas críticas, etc., mas também outras obras especificamente voltadas a descriminar o contorno da metáfora. De maneira, que seria preciso uma obra inteira para se fazer uma síntese dessas análises. (♦) Considerável parcela da complexidade apresentada pela metáfora advém de suas profundas ramificações com outras figuras de linguagem e pensamento, como a metonímia, a comparação, a sinédoque, etc. Para ser sucinto, diríamos que a metáfora consiste na transferência de um termo para uma esfera de significação que não é a sua, a partir de um ponto em comum entre dois conceitos. Quando alguém diz: «Eu estava mergulhado na tristeza» não podemos entender o verbo «mergulhar» em seu sentido exato ou denotativo, que é o de «introduzir na água», «afundar num líquido». Entretanto, há um ponto comum entre este sentido e o sentido que o verbo adquiriu na frase citada: assim como a água cobre completamente o corpo que nela é mergulhado, também a tristeza toma completamente o sujeito da frase. Da mesma forma, se alguém diz «Fulano é um cavalo», a palavra «cavalo» não deve ser entendida em seu sentido exato, mas como metáfora da idéia de estupidez, idéia com a qual a palavra cavalo se relaciona. A base da metáfora é, portanto, a semelhança, a analogia que permite a passagem de um termo a outro. Assim ela transporta o nome de um objeto a outro, graças a um caráter comum a ambos; a folha da árvore dá o seu nome à folha de papel em razão da pequena espessura de uma e outra. Exemplos de metáfora: => A vergonha queimava-lhe o rosto. => As suas palavras cortaram o silêncio. => O relógio pingava as horas, uma a uma, vagarosamente. => Ela se levantou e fuzilou-me com o olhar. (♦) Outra questão preliminar, intimamente relacionada com a anterior, diz respeito ao meio sócio-cultural em que empregam a metáfora. Konrad contrapõe à metáfora estética a metáfora lingüística, o que nos permite acreditar que a metáfora não é exclusiva da linguagem literária que tem suas raízes na intenção deliberada de criar efeito emotivo. Ela ocorre da mesma maneira na linguagem falada, talvez de forma tão abundante quanto nos textos literários. A diferença estaria no caráter assumido pela metáfora vulgar, cotidiana e a metáfora utilizada com objetivos estéticos. Via de regra, a linguagem falada recorre ao que se chama de metáforas mortas ou latentes, quer dizer, metáforas petrificadas, estereotipadas, tornadas clichês, vazias de sentido, conhecida (conforme a nomenclatura herdada da retórica greco-latina) como - Catacrese. 3 - CATACRESE ( Grego katákhresis, uso impróprio, abuso)(•) Denominada «abusio» em Latim, é uma metáfora estereotipada, mas necessária. Resulta a catacrese da ausência de um termo próprio para designar determinada coisa (pernas da mesa, cabeça de alfinete, folha de papel, etc.), «um fenômeno» da pobreza (inopia) do sistema linguístico, que é falho de um «corpo» de palavra para uma coisa que necessita de disignação, o que conduz, às vezes, ao estabelecimento de relações de semelhança, até abusivas e forçadas, como se vê, por exemplo, em: => Embarcar num trem (embarca-se na barca). => O avião aterrissou em alto mar (aterrissa-se na terra). => Enterrou uma farpa no dedo (enterra-se na terra). ♦ Estas metáforas já foram incorporada pela língua, perderam seu caráter inovador, original e transformaram-se numa metáfora comum, morta, que não mais causa estranheza. Em outras palavras, transformaram-se numa catacrese. Porém será um deslize gramatical quando não provier duma necessidade, ou seja, quando o ser ou coisa já ostentar expressão prórpia; por exemplo: "bebeu a sopa", "colheu batatas", "arrancou laranjas". Fora daí, admite-se a catacrese como enriquecimento metafórico:» Azulejos verdes – Marmelada de chuchu – cavalgar elefante - Braço de mar - Dente de alho - Pé de montanha - Maçã do rosto.♦ Uma curiosidade: A palavra "azulejo" originalmente servia para designar ladrilhos de cor azul. Hoje, essa palavra perdeu a sua idéia de azul e passou a designar ladrilhos de qualquer cor. Tanto que dizemos azulejos brancos, amarelos, azuis, verdes, etc. ♦ Nem sempre a catacrese equivale a erro ou abuso: pode nascer de ne-cessidades estilísticas, para exprimir situações quer líricas, quer humorísticas.► Levando em conta o que já mencionamos no início do texto, a metáfora reveste diversas modalidades, entre as quais merece destaque a hipérbole, a personificação e a sinestesia. 4 - HIPÉRBOLE (Grego hyperbolê, excesso) É a figura do exagero deliberado, tem por fundamento a paixão, que leva o escritor a deformar a realidade, quer no sentido positivo, quer no negativo, segundo o seu particular modo de sentir. Constitui, efetivamente, uma forma de exagerar a verdade, mas com respeito à beleza, seja por amplificação, seja por atenuação. (♦) Emprega-se tanto na linguagem falada , como por exemplo: “Comi sem parar a noite inteira”; “Morri de medo”, quanto na literária: “E nós passamos feito flecha, feito bala, feito vento.” (♦) Na linguagem corrente são comuns as hipérboles autorizadas pelo uso: morro de saudades – estouro de rir – ser louca pelos filhos, etc.5 - PROSOPOPÉIA (Grego prósopoiía; prósopon) Também chamada por Personificação, ou Animismo. Consiste em atribuir vida, ou qualidades humanas, a seres inanimados, irracionais, ausentes, mortos ou abstratos. A humanização ou animismo, pode dar-se de vários modos, a saber: ► Quando se conferem a objetos inanimados e a abstrações (coisas abs-tratas) qualificativos próprios do ser humano, por exemplo: => O dia amanheceu enfurecido.► Ao emprestar às coisas inanimadas poder de ação peculiar aos seres humanos: => A chuva semeou um pouco de esperança no solo calcinado.► Quando nas apóstrofes (palavra (s) que iniciam um enunciado, para indicar o destinatário da mensagem - p.ex.: bom-dia, doutor; você, venha cá.), nos dirigimos ao seres inanimados como se fossem capazes de inteligência ou compreensão: => E tu, nobre Lisboa, que no mundo. (Camões) ► Quando adquirem voz a matéria inerte e os seres abstratos, como, por exemplo, no Criton, diálogo acerca de Sócrates na prisão, em que Platão põe as Leis a falar. A mais genialmente arrojada prosopopéia da língua portuguesa é, sem dúvida, a personificação do Cabo das Tormentas na figura do Gigante Adamastor. (Camões, Os Lusíadas, V, 39-59.) 6 - SINESTESIA (Grego syn=juntamente; aísthesis=sensação.) Palavra oriunda da Psicologia, designa a transferência de percepção de um sentido para outro, isto é, a fusão num só ato perceptivo, de dois sentidos ou mais (sensações visuais com auditivas, gustativas, olfativas, tácteis) numa mistura de ricos efeitos expressivos. Assim, «ruído áspero» denota o congraçamento da audição e do tato. Outros exemplos: => A cor cantava-me nos olhos... ( visual [cor] e a auditiva [cantar]). => "(...) entravam claridades cinzentas e surdas, sem sombras.” (Clarice Lispector) => "Som que tem cor, fulgor, sabor, perfume.” (Hermes Fontes) (♦) A sinestesia é usada em Literatura desde a Antiguidade Clássica, entrou na moda no século XIX, graças a Baudelaire ( “La parfums, lês couleurs et lês sons se répondent.”). Quanto a invenção da palavra parece dever-se a Julles Millet (Audition colore, 1892). (♦) Considerada um dos recursos mais típicos do Simbolismo, a sinestesia é reconhecida pelos lingüistas como um tipo de metáfora, ou mesmo um grau de metáfora. ®------------------------------------------------------------------------------------------------------ Ajudaram na elaboração deste glossário: • Alfredo Bosi - História Concisa da Literatura. • Rocha Lima – Gramática Normativa da Língua Portuguesa. • Graça Paulino – Literatura Participação & Prazer. • Assis Brasil – Vocabulário Técnico de Literatura. • Massaud Moisés - A Criação Literária. Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe. Agradeço a leitura do textos e, antecipadamente, qualquer comentário.
Ricardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 19/08/2006Código do texto: T219876

Um comentário:

Miris disse...

Este trecho de sua publicação, encontra-se num outro site, em forma de citação às palavras de Massasud. Como estou fazendo uma pesquisa preciso saber quem é o verdadeiro autor de: "a metáfora não é exclusiva da linguagem literária que tem suas raízes na intenção deliberada de criar efeito emotivo. Ela ocorre da mesma maneira na linguagem falada, talvez de forma tão abundante quanto nos textos literários. A diferença estaria no caráter assumido pela metáfora vulgar, cotidiana e a metáfora utilizada com objetivos estéticos. Via de regra, a linguagem falada recorre ao que se chama de metáforas mortas ou latentes, quer dizer, metáforas petrificadas, estereotipadas, tornadas clichês, vazias de sentido, conhecida (conforme a nomenclatura herdada da retórica greco-latina) como - Catacrese".