sábado, 5 de maio de 2007

Contos - tipos

O CONTO --------------------------------- TIPOS Tipos de Contos------------------------------------------- [•] Vou usar, para a classificação dos contos a sugestão de Carl H. Grabo, The Art of the Short-story, pp. 128–210. Mas é preciso atentar para o fato de que não existem, mesmo dentro de qualquer classificação, contos puros. Todo o conto apresenta múltiplas características, porém com predominância de uma, que lhe dá sua localização em determinada categoria: 1 – O Conto de Ação-------------------------------------------------------- •» É o tipo mais comum; começou com As Mil e Uma Noites e nos dias atuais os contos policiais e de mistério lhe dão continuidade. A predominância da aventura nesse tipo de conto não significa a ausência das demais. Existem, sem dúvida, mas em grau de inferioridade em relação à ação. 2 – O Conto de Personagens------------------------------------------------------------------------------ •» É o menos comum do que o de ação. A preocupação da criação de personagens como seres vivos é mais preocupação do romancista que do contista. O que importa para este é a ação. Mesmo que o retrato de uma personagem constitua o objetivo principal, esta nunca atingirá o grau de plenitude, específico do romance. Se o contista volta sua atenção ao exame da personagem, levará, sempre, em conta a conjectura própria do conto, ou seja, a fará dentro dos limites próprios à narrativa curta, isto é, sintetizada. Na Literatura Brasileira, Clarice Lispector, levou o conto de personagem a perfeição com sua obra prima "Feliz Aniversário". A narrativa se constrói em torno da celebração do aniversário duma anciã de 89 anos: ela tão somente constitui o centro de tudo. As referências rápidas aos demais familiares apenas colaboram para formar a atmosfera onde o episódio máximo da existência da velinha vai ter lugar. E de repente, com breves palavras a contista ergue a presença viva da personagem diante de nós: "E para adiantar o expediente, vestira a aniversariante logo depois do almoço. Pusera-lhe desde então a presilha em torno do pescoço e o broche, borrifara-lhe um pouco de água-de-colônia para disfarçar aquele seu cheiro de guardado – sentara-a à mesa. E desde as duas horas a aniversariante estava sentada à cabeceira da longa mesa vazia, tesa na sala silenciosa." Daí por diante, a ficcionista só faz retocar a figura, acrescentando-lhe minúcias que enriquecem o esboço inicial (...), pois o seu “close-up” nos é ofertado nas primeiras pinceladas¹: "Os músculos do rosto da aniversariante não a interpretavam mais, de modo que ninguém podia saber se ela estava alegre. Estava era posta à cabeceira. Tratava-se de uma velha grande, magra, impo- nente e morena. Parecia oca." E assim até o fim. E assim até o fim. 3 – O Conto de Cenário ou Atmosfera------------------------------------------------------------------------------------------------------ [•] É raro. Nele predominam o cenário e o ambiente sobre o enredo e os protagonistas. Na Literatura Brasileira temos como exemplo o conto "Assombramento", que abre o volume Pelo Sertão, de Afonso Arinos. É uma extensa narrativa em torno de um mal-entendido. Dizia-se que uma tal casa abandonada era assombrada e que a assombração tinha hora certa para se anunciar. Até que uns destemidos vaqueiros resolvem desvendar o mistério, e descobrem que a tal assombração era tão somente o vento batendo estridente e sinistramente nas velharias da casa mal-assombrada. Esse conto é classificado como de ambiente e atmosfera pelo fato de se organizar em torno dos objetos e pormenores que vão sendo desvendados à medida que os vaqueiros penetram na escuridão da casa assombrada. Mas a assombração não existe na cabeça dos personagens? Sim, existe; mas o contista desvia o eixo narrativo para a causa material do medo que tomava conta dos vaqueiros em meio às trevas, passando a tônica dramática para o ambiente, o cenário, de modo, que estes se transformam em protagonistas. O leitor, por sua vez, experimenta o mesmo sentimento das personagens, à medida, que também adentra a casa abandonada. Por isso, há, neste conto, uma associação com o conto de emoção. 4 – O Conto de Idéia---------------------------------------------------------- [•] Veículo de doutrinas filosóficas, estéticas, políticas, etc., é mais utilizado e freqüente que o de ambiente e atmosfera. Teve no século XVIII, seu apogeu; época em que se escreveram inúmeras narrativas de caráter moralista, em torno de uma idéia. Voltaire foi seu maior representante, mestre no gênero. Nele o contista oferece ao leitor uma síntese, generalizada, das observações que a vida lhe permitiu fazer acerca dos homens e do mundo. O material de que se serve é o usual: personagens, história, ambiente, etc. Porém o objetivo é utilizá-los como instrumento para transmitir o que pretende: a idéia; que está identificada com a ação e os personagens, isto é, em vez de escrever «a idéia», o ficcionista escreve um conto e nele embute «a idéia». Em caso contrário, o conto se transformaria em um mero veículo de idéias preconcebidas, ou em panfleto. O Alienista, de Machado de Assis, parece enquadrar-se perfeitamente nesse tipo de conto. Nele Machado pretende nos mostrar como sabemos pouco da espécie humana: quem é lúcido? quem não é? onde a verdade? 5 – O Conto de Efeitos Emocionais --------------------------------------------------------------------------------------------[•] Visa simular uma sensação no leitor, de terror, de pânico, de surpresa, etc., como nas histórias de Hoffmann, Poe e outros. Personagens, ação, ambiente, tudo nele converge para o objetivo principal, que é despertar uma emoção em quem lê. Apropriado à comunicação dos climas de mistério ou de medo, o conto de emoção, muitas vezes, se associa ao de idéia. Anote: A classificação dos contos que acabamos de ver, foram estruturadas de acordo com as técnicas da narrativa. Dentro dessas técnicas temos os contos de humor, os fantásticos, os de mistério e terror, os realistas, os psicológicos, os sombrios, os cômicos, os religiosos, os minimalistas.® ______________________________________________________ 1 – Massaud Moisés Ajudaram na elaboração deste texto: Alfredo Bosi - História Concisa da Literatura. Assis Brasil - O Romance, A Poesia, O Conto, A Crítica - A Nova Literatura. Massaud Moisés - A Criação Literária.Clarice Lispector, Feliz Aniversário, pp 66-67 Luzia de Maria Reis, O que é o Conto. • Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe. • Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário.
Ricardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 18/02/2007

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